
Ferramentas de Inteligência Artificial já automatizam etapas do trabalho jornalístico e de assessoria, mas a curadoria humana e a credibilidade continuam sendo o diferencial no relacionamento com a imprensa.
A Inteligência Artificial deixou de ser uma tendência para se tornar um componente estrutural da comunicação. Em agências, redações e departamentos de marketing, ferramentas baseadas em IA já são utilizadas para analisar dados, prever tendências, gerar textos e até sugerir pautas. O avanço dessas tecnologias começa a redefinir o papel da assessoria de imprensa e, com ele, a forma como as marcas constroem reputação e se relacionam com jornalistas.
Se antes a rotina do assessor era dominada por tarefas operacionais, como o clipping manual ou o envio de releases em massa, hoje a tecnologia permite que boa parte desses processos seja automatizada. Plataformas com aprendizado de máquina são capazes de monitorar menções à marca em tempo real, identificar picos de repercussão e cruzar dados de sentimento e engajamento. O resultado é um trabalho mais ágil e estratégico.
Segundo Silvana Inácio, CEO e fundadora da Si Comunicação, o impacto da IA na assessoria é comparável à chegada do e-mail no jornalismo. “Estamos diante de uma mudança de paradigma. A Inteligência Artificial não substitui o assessor, mas muda completamente a maneira de trabalhar. Ela entrega velocidade, mas é o olhar humano que garante contexto, ética e relevância”, afirma.
A executiva explica que a tecnologia vem ampliando o alcance e a precisão da comunicação corporativa, mas alerta para os riscos de superficialidade. Segundo ela, a IA ajuda a identificar o que é tendência, mas não entende o propósito. “Um texto pode ser tecnicamente perfeito e, ainda assim, vazio de sentido. É por isso que a curadoria humana continua indispensável: é ela que define o que realmente é notícia”, diz.
O uso inteligente da tecnologia está em combinar dados com narrativa. Ferramentas de IA podem apoiar o assessor na identificação de oportunidades de mídia, na mensuração de resultados e até na personalização do contato com jornalistas. No entanto, a essência da assessoria, ou seja, o relacionamento, continua sendo humana. “Nenhum algoritmo substitui uma conversa de bastidor, a confiança construída ao longo do tempo ou o faro jornalístico que percebe quando uma história tem valor”, reforça.
A automação também vem modificando o ritmo das redações, que passaram a lidar com volumes cada vez maiores de informações geradas por IA. Isso aumenta o desafio para as assessorias: destacar suas pautas em meio a um ecossistema de conteúdo mais saturado e competitivo. A precisão dos dados agora precisa vir acompanhada de autenticidade e de uma boa história.
O futuro da assessoria será híbrido: uma combinação entre tecnologia e sensibilidade. Ferramentas baseadas em IA devem continuar evoluindo na organização e análise de informações, liberando tempo para que os profissionais se dediquem a funções de maior valor estratégico, como gestão de reputação, posicionamento institucional e relacionamento com stakeholders.
“A assessoria de imprensa que entende a IA como parceira e não como ameaça sai na frente. O desafio não é competir com a máquina, mas aprender a usá-la para potencializar o que o humano tem de melhor: o discernimento e a empatia”, conclui Silvana.
Em um mercado cada vez mais orientado por dados e velocidade, a nova assessoria de imprensa se consolida como uma mistura de técnica e intuição, análise e narrativa. A Inteligência Artificial pode gerar eficiência, mas é a inteligência humana que continua dando sentido — e alma — à comunicação corporativa.